Adoro a Martha Medeiros. Pra mim ela é uma espécie de Djavan: consegue falar sobre as coisas mais profundas sem cair na pieguice ou na breguice. Numa dessas crônicas da revista de domingo, ela conseguiu traduzir exatamente o que eu penso sobre a questão "do tempo certo de cada coisa". Ou seja, tudo na vida tem uma duração ideal, um life time, passou daquilo... deu, foi, perdeu a graça, encheu o saco. Acho até que é por isso que a gente nasce, cresce e morre, porque essa história de vida eterna deve ser chato a rodo. Então, faço minhas as palavras da Martha. E vejam se vocês concordam.
"Há quem escolha o livro pelo número de páginas. Se tiver mais que 200, não chega nem perto. Livrão: taí uma coisa que não me inibe. É bem verdade que um tijolaço não é lá muito agradável de segurar, mas nada impede que seja devorado com prazer. No entanto, é uma exceção que abro para a literatura. Para quase todo o resto, sou fã dos compactos." (...)
"Peça de teatro, nem me fale. Deveria ser lei: não durar mais que 90 minutos. (...) Gosto muito de teatro, mas também gosto muito de jantar. (...) Não gosto de nada que extrapole o tempo regulamentar do meu humor e da minha capacidade de simpatia. "
"Reconheço que nada do que estou dizendo é digno de aplauso. Manda a etiqueta não se apressar, usufruir de tudo com calma, dar tempo para que as coisas se desenvolvam. Na teoria, concordo. Na prática, sou menos paciente. Não lido bem com com situações que se arrastam, com falta de objetividade, com rodeios. Fico nervosa com gente que fala pausadamente e leva 10 minutos pra dizer o que poderia ser dito em três. Pessoas que ficam horas ao telefone sem chegar logo ao ponto. Música que repete à exautão o estribilho. Eu cortaria uns quatro "lá lá lá lá hey, Jude..." Que heresia: sobrou até para os Beatles."
"E o que dizer de um palestrante que ama a própria voz? E emails do tamanho de uma tese de mestrado? E teses de mestrado? E novelas? Alguém me explica por que ainda fazem novelas que duram oito meses?"
"Estou dando a impressão de que fui abduzida por esse mundo que não enaltece o prazer, que não se entrega à reflexão, que não curte a travessia. Mas a verdade é que eu ainda me regalo - e muito - com prazeres, reflexões e travessias, sem achar que para isso é necessário que eles me esgotem. (...)
" Para provar que não sou um caso totalmente perdido, algumas coisas ainda aprecio que sejam longas, como as amizades, as caminhadas, as conversas em volta da mesa, nosso tempo de vida... E uma boa transa, é claro. Já o sexo tântrico é outro exagero. Cinco horas pra atingir o orgasmo? Esse pessoal não tem que trabalhar no dia seguinte?"
Falou tudo Martha.
Até.
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