segunda-feira, 22 de junho de 2009

Da série "Clássicos": "Flátima".


Aconteceu numa viagem à Búzios, combinada pela galera num daqueles fins de tarde no Pepê. Só iriam os amigos legais, o povo entrosado e divertido. Mas eis que surge uma pentelha penetra, a qual nós nem sabíamos direito o nome. Uns achavam que era Fátima, outros juravam que era Flávia. Virou Flátima.

A Flátima era aquela pessoa tipo rêmora, agregada do irmão do colega do amigo. E ela cismou com um amigo nosso. Desde então, resolveu se estabelecer na praia com a gente. O pior de tudo é que ela era simpatia zero e com as mulheres então... Pra mim, particularmente, só de ver a cara dela já me irritava porque me lembrava um triângulo invertido. Devia ter seno e cosseno de tão chata (tenho trauma de geometria). Ela também tinha um ar de araci de almeida loura, sempre mal humorada. E pra agravar a situação, vivia pra cima e pra baixo com uma cachorrada de fazer inveja àqueles dos filmes do Stephen King.

Nem preciso dizer que todo mundo já tinha sacado que a mulher era uma mala ensaboada. E pra nosso azar, a figura tava na praia nesse dia da combinação da viagem. Óbvio que ela acabou se infiltrando. A semana voou e logo chegou a quarta, véspera do feriadão. Partimos. Mas pra nossa sorte, um outro amigo nosso estava hospedando um sueco e, como o gringo tava mais feliz do que pinto no lixo no Brasil, acabou indo também. Pensamos: esse gringo vai "herdar" essa Flátima. Vamos deixar esse "job" com ele... Rolavam aqueles olhares cúmplices. Risinhos discretos.

Assim que chegamos à Búzios, a Flátima começou a emanar a sua natural força centrípeda e cada um de nós foi se espalhando prum lado, ou seja, pra bem longe dela.
Cinco minutos depois, só sobrou a Flátima e o Gringo. Já que o coitado não falava nem uma vírgula em português, achamos que essa tarefa ia ser mole pra ele.

O feriadão foi passando e, durante os dias, a gente vira e mexe vislumbrava o Gringo junto com a Flátima passando. Era Rua das Pedras, Chez Michou, Bar do Zé, Tartaruga, e o pobre do Gringo com aquela expressão de "quem roubou o meu pudim?". Também nem preciso dizer que, quando a gente via o casal apontando no horizonte, a gente se disfarçava de arbusto e ficava só de longe vendo a cena.

Eis que no último dia de viagem, quando todos já começavam a retornar "para vossas casas", ou seja, se reencontrar naquele fim de tarde em Geribá, surge o Gringo sozinho, todo sorridente, parecia que tava com encosto do Neguinho da Beija Flor em dia de desfile na Sapucaí. Não deu nem 1 segundo e nós, quase em coro, perguntamos: "Ué, where´s Flátima?". E o Gringo, com uma expressão de quem tinha saído vencedor de uma luta com o Jaspion, disse:
Ahhh, muuuito chato ela!!!

O Gringo virou nosso herói. E o melhor: ele entendia bem o porquê.

O "Muito chato ela" virou um bordão pra gente. Até meu irmão, que soube da história por mim bem depois, usa o "Muito chato ela" em diversas situations.

De volta ao Pepê, pós viagem, a Flátima reapareceu mas não voltou a se aproximar. Se transformou numa versão do Jeison de sexta-feira 13. Foi um "obrigada senhor" unânime. Acho que esse Gringo veio ao mundo pra isso, com a missão de "situar" a Flátima.

Bem, depois que a Flátima se transformou em lenda, tive alguns encontros inusitados com a pessoa dela. Inacreditáveis.

O primeiro: tinha acabado de me mudar e levei a família pra visitar o meu apê. Aí, enquanto estávamos ali no hall, o elevador se abriu e tchãããã surge a Flátima com a sua carruagem de cachorros draculescos! Imaginem o meu pancadão. Era o último lugar que eu esperava encontrar a Flátima! E pior, depois disso, ela NUNCA MAIS apareceu no prédio! Meda.

O segundo: academia do Rio Sul, aula do André lotada, a mais concorrida da academia. Tinha gente que chegava 1 hora antes pra guardar lugar. De repente, no auge do agachamento, a gente só escuta uma kizumba vindo do fundo da sala. Me viro e vejo: era a Flátima criando o maior caso porque não tinha colchonete e nem 1 milímetro quadrado pra ela ficar. Pra tapar a boca da mala, o coitado do André a colocou naquele palquinho, no alto, onde ele ficava. Agora pensem: eu fazendo uma aula inteira olhando pra cara e pra bunda da Flátima!

O terceiro (esse foi sinistro): Tarde mulherzinha. Combinei com uma super amiga minha que era sócia do clube Piraquê, de passar a tarde lá, fazendo de um tudo: sauna, massagem, limpeza de pele, pé e mão, etc. Geral com preços baratézimos. Bem, deixamos o pacote manicure pro fim e pra nossa surpresa o salão lotou em plena 4a. feira. Porém a gerente, que era super simpática, falou: olha, tem uma pessoa que tá muito atrasada. Vou botar você no lugar dela. Lá estou eu super done, pés sendo massageados, quando vejo um espectro me fulminando: era a Flátima! Nâo é que a pessoa que tava atrasada era ELA! Fiquei chocked. Depois fui à igreja jogar uma água benta, porque a cara de aracéia da Flátima quando me viu, foi dose.

Pra fechar, deixo aqui o registro de que nunca mais vi a Flátima novamente.
Mas não me esqueço a grande lição dessa história: a chatice é praticamente um Esperanto: universal.

Inté
bjs
Fe

PS: esse texto é dedicado àqueles que sempre quiseram eternizar o "Muito chato ela".

















Um comentário:

Renato Marques disse...

Como ja escreveu o Renato Russo:
Ela talvez tivesse um nome e era: Flátima
E de repente o vinho virou água
E a ferida não cicatrizou
E o limpo se sujou
E no terceiro dia ninguém ressuscitou